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Jonasnuts

Jonasnuts

Casa João

Jonasnuts, 29.09.12

Ando a ver se poupo na despesa, como toda a gente, parece-me.

 

Assim, para além das coisas que já descrevi aqui (auto-link), há outras coisas que não me ocorreram antes, e que me chegam ao tico e ao teco, à medida que o tempo passa e as situações me são apresentadas.

 

Eu tenho um filho adolescente. Aquela idade em que não há pronto-a-vestir que chegue MESMO pronto a vestir. O corpo adquire formas estranhas, maior aqui, mais pequeno acolá. Fruto de um súbito surto de crescimento, tive de lhe comprar 3 pares de calças, que para lhe servirem na cintura, lhe ficam demasiado compridas. Na loja fazem as bainhas. €7.50 o par. Elá. €22.50. Isto são quase 5 contos em moeda antiga.

 

Desencanto a máquina de costura que andava arrumada à minha espera há uns tempos, e toca de pôr mãos à obra. As pretas ficaram despachadas logo 2 dias depois. Já as usou. Para as cinzentas, precisava de linha.

 

Ficaram perfeitas? Não, foram as primeiras bainhas que fiz na vida. O preto ajuda a disfarçar as partes em que a costura não ficou exacta e milimetricamente a direito, as próximas ficarão melhores. A máquina tem manias, precisa de ser afinada, e não encontro mecânicos que tratem da coisa. Adiante. Alguma coisa se há-de arranjar.

 

Hoje, quase às 2 da tarde, passo à porta da retrosaria aqui do burgo, e paro o carro, mesmo no meio da estrada. Naturalmente, a porta estava fechada, nem eu contava com outra coisa. Deixo o carro no meio da estrada e vou ver o horário de funcionamento. Nem olhei para dentro. Sim senhor, Sábados, das 9h30 às 13h00. Para a semana cá estarei.

 

Já estou dentro do carro, quando a porta se abre. Uma senhora, com aspecto de ser minha avó, com um sorriso cansado, diz-me que posso entrar. Eu digo que já passa da hora e que regresso para a semana. Ela insiste e diz que não faz mal.

 

Arrumo o carro e entro. Não é a primeira vez que ali vou, mas é apenas a segunda. Lá dentro está a senhora e, presumo, o marido. Tem aspecto de avô :)

 

Digo ao que vou, sou conduzida às linhas, escolho uma cor, depois de a ter colocado ao lado da amostra de tecido que levei. É esta, digo. A senhora olha para mim, e diz-me: Não, essa é muito clara e meio esverdeada. A melhor é esta, e ainda por cima é mais barata. Tungas. Tinha razão, a avó. E não tinha óculos. Quem sabe, sabe.

 

Nos pagamentos, com dinheiro que nestas lojas evito sempre usar o Multibanco, o senhor mete conversa. Se precisar de um mecânico para arranjar qualquer máquina de qualquer marca, não se esqueça de nós. Trabalhamos com um mecânico muito bom, reformado da Singer, mas que trabalha com todas as marcas e até arranja peças para aquelas mais antigas para as quais não há ninguém que dê conta do recado.

 

Tungas, fui buscar linha, saio de lá com a linha e com o problema da máquina resolvido.

 

E por fim, o senhor ainda diz, a Singer fechou há pouco tempo e deixaram-nos aqui uma máquina de costura, que nunca foi usada, e que estamos a limpar para vender. Quer ver? E eu disse que veria, mas só por curiosidade, porque a cena não está para gastos, e que a minha actual máquina de costura vai dando conta dos meus requisitos, que pouca maquinaria exigem.

 

E mais valia ter estado quieta. Porra da máquina é fabulosa. Até a cor é perfeita, e tem aquela patine do instagram, mas natural e bom, e não artificial. Nunca foi usada. Está nova, só falta limpar o pó e olear e coiso e tal (que é o que os senhores estão a fazer neste momento). Eu não posso, mas quem puder, recomendo vivamente.  €175.00 (barata, barata, barata).

 

 

Não é a única coisa que recomendo. Recomendo também a Casa João (só o nome já é sinal de extraordinário bom gosto e elevação e nível e classe). É em Paço de Arcos, mais exactamente na rua Costa Pinto, nº 103 (é fácil, se vierem pela Marginal, tomam a 1ª saída de Paço de Arcos, e é nessa rua, no 3º quarteirão).

 

Ainda comprei agulhas de máquina especiais para coser ganga, linha preta e linha branca em carretos gigantones que sai mais barato, e lã para uma experiência que quero fazer por via da tentativa do aumento da receita.

 

E tudo isto sem sentir que me estivessem a impingir fosse o que fosse, com simpatia, elegância e qualquer coisa que não sei identificar que me leva a querer ir ali mais vezes.

 

Tenho saudades das minhas avós e dos meus avôs, é o que é.

 

4 comentários

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    Jonasnuts 30.09.2012

    Pois.... por isso é no outro post das duas décadas de marcha atrás eu terminei com "Se toda a gente fizer o mesmo (e mais coisas que nos ocorram entretanto), vai ter, certamente, um efeito boost na economia, e vamos sair do buraco." Era irónico.
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    AB 30.09.2012

    Eu percebi que era irónico. Está lá o meu comentário. O que eu estava a enfatizar é que enquanto sociedade caímos numa armadilha: não devíamos estar a poupar nesta fase, mas não temos alternativa. Nesta fase é que devia entrar o Estado a financiar a economia, embora, evidentemente não com estádios de futebol, TGVs e aeroportos com 2 clientes por dia. Mas o Estado não tem dinheiro porque (atenção, o que se segue não é política, é estatística) o anterior Governo quase duplicou a dívida pública, queimando a margem de manobra para quem viesse a seguir. Eu até daria uma relativa folga a este Governo porque não pode no contexto fazer mais. Disse "daria" porque apesar de tudo podia fazer diferente, e sobretudo porque são do pior que já vi a comunicar. Quer dizer, é estúpido fazer uma comunicação nos moldes em que foi feita e ainda por cima ir para um Casino cantar e dançar. Tal como dizer que que os portugueses estão a viver abaixo das possibilidades - e com isso a agravar a recessão - é a forma mais errada de dizer que a quebra da procura interna vai agravar a recessão. Eu pasmo todos os dias com a falta de tacto político desta gente. Nesse sentido era preferível ter cá um Sócrates, mas sério.
    Há muito tempo comentei num blog que solvência e soberania eram uma e a mesma coisa, que ao destruír a solvência, o PM de então estava a destruír a soberania. Bem, o blog era socialista e chamaram-me quase tudo, mas não foi um comentário político, foi económico.
    Este blog também não é político ou económico, mas as tuas receitas para enfrentar a crise entram nesse campo. Eu estou a fazer o mesmo, estou a cortar em tudo o que posso. E tenho a certeza de que é o caminho errado e tenho a certeza de que não tenho outro. Ainda por cima, ao retirar practicamente todas as redes sociais de segurança, este Governo impede seja quem fôr de arriscar econónicamente - é como no circo, sem rede não arriscas o triplo mortal em vôo.
    Quando dizes que voltámos 20 anos atrás, eu digo que ainda é pior que isso. Quem tem, neste momento, recursos para alocar durante, sei lá, uma década, pode comprar casas, terrenos, mesmo empresas, a preço de saldo, e vai emergir muito mais rico. No final disto, o fosso social entre ricos e pobres vai ser o mesmo do tempo da outra senhora. E eu nasci pobre no tempo da outra senhora e não me agrada nada a idéia de voltar a esse lugar. Pior, nem posso pensar que a minha filhoca vai atingir a idade adulta num país completamente clivado. É esta impotência, esta sensacão de que se ficar o bicho come, se fugir o bicho pega, que me dá voltas ao estômago.
    E pior, para que serve a democracia se os políticos invariávelmente fazem o contrário do que prometem? Eu compreendo as manifs espontâneas, apartidárias, acho que são a resposta justa ao sistema (sem excepções) que nos trouxe até aqui, mas é claro que a nível de mercados até isso nos enterra mais. E acho nojento que alguns partidos, como sempre, se colem e utilizem o povo para satisfazer a sua agenda, quando o país precisa, nesta fase, de visões políticas menos bairristas.
    São dias negros, muito negros.
    Abraço.
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    Jonasnuts 30.09.2012

    Os dias são negros precisamente porque qualquer pessoa com dois dedos de testa percebe isso que acabaste de explicar. Sabemos que o que fazemos na nossa gestão económica caseira não é o melhor, mas não temos outra hipótese. Quem tem filhos, como nós, vê o caso completamente mal parado, uma espiral sem regresso, que passa quase obrigatoriamente pelo estrangeiro e pela diminuição da qualidade de vida.

    De todos os cartazes que vi das várias manifestações (e vi bastantes), houve um que me impressinou imenso. Uma senhora, pouco mais velha que eu, com um cartaz que dizia mais ou menos isto "Mãe de licenciados emigrados. Já me roubaram os filhos, que querem vocês mais?".

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