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Jonasnuts

Jonasnuts

Fake news

Jonasnuts, 31.03.20

Não gosto do termo "Fake news" porque é enganador. Prefiro a versão portuguesa, "desinformação" porque é mais esclarecedora.

Mas o "Fake news" pegou e as pessoas acham que o seu significado é literal, e que se trata de notícias falsas. Mentiras. Erros crassos. Aldrabices. Não é disso que se trata.

 

Trata-se de veicular informação, e não é preciso que sejam notícias, que manipula a opinião pública, normalmente com alguma relação com a verdade, e com objetivos pouco óbvios. Podem ser económicos, sociais, políticos ou todos os acima referidos.

Vem isto a propósito de algo que vi partilhado no Facebook ontem, por várias pessoas (uma das quais não acho que seja imbecil).

 

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Ora..... esta pessoa, e mais as 44 que partilharam a coisa, só neste post, defendem que os países que usam máscaras são os que mostraram mais eficácia a limitar a propagação do vírus. À pergunta, "então e a China, que quando alguém espirra corre tudo a máscaras?" respondem que é diferente, porque "o que quer que lhes ocorra no momento".

O gráfico é produzido pelo Financial Times, e com um contexto completamente diferente, como é óbvio. 

A partilha vem com link, para um site chamado, muito apropriadamente, Masks Save Lives com um endereço maskssavelives.org (sem link que eu não contribuo diretamente para estes merdas). 

Uma investigação básica a este "site" mostra-me que não tem um "about", mostra-me que tem um endereço de mail de contacto que é um gmail e mostra-me que é um domínio criado há 3 dias.

whois.jpg

E as pessoas, mesmo com estas pistas todas a gritar "desinformação" decidem partilhar, achando que correlação é causalidade.

 

Reparem...... não estou a falar do zé das iscas.....estou a falar de pelo menos um professor universitário e de pelo menos um advogado e não tive pachorra para andar a chafurdar nos perfis daquela gente toda que partilhou a coisa, para descobrir o que fazem na vida.

 

A sério..... esta gente existe? Esta gente vota? Esta gente reproduz-se?

 

Já que pelos vistos sim, eu conheço um príncipe nigeriano que gostava de lhes apresentar.

Amém

Jonasnuts, 30.03.20

Se as missas fossem todas assim, eu nem me importaria muito......(SQN).

Isto é maravilhoso.

E, para quem percebe italiano, mais maravilhoso ainda. O coitado do senhor não se apercebeu de que tinha sido ele próprio a ativar os filtros, e está a dar um pequeno responso no senhor que gosta de desenhos e que está a desenhar por cima da cara dele. 

 

Saberes antigos

Jonasnuts, 26.03.20

Os meus feeds inundam-se de fotografias de pão. Provavelmente à mesma velocidade com que o fermento para pão e a farinha desapareceram das prateleiras dos supermercados.

Muita gente a descobrir o prazer de fazer pão, ou de ter uma casa a cheirar a pão acabado de fazer. E, há poucas coisas melhores do que uma bela fatia pão quente, feito por nós, carregado de manteiga da que engorda com sal.

Faço pão há muito tempo, comecei noutra vida, recomecei há uns meses, aqui na casa nova. Mas não vou mostrar uma foto do pão, porque como se acabou o fermento aqui de casa e eu não fui de açambarcar, fiquei sem. A massa-mãe ainda vai demorar uns dias até ficar pronta.

Opto por outros regressos, a outros saberes antigos.

Amanhã ao fim do dia vai haver uns quantos frascos de doce de abóbora com noz aqui em casa.
Receita da minha tia Helena, transcrita pela minha mãe, melhorada por consultoria direta com a autora da coisa, aqui há uns meses. 

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Os morangos são a sobremesa do jantar :)

 

 

 

 

Boletim dos passeios

Jonasnuts, 18.03.20

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Eu tenho álibi para sair de casa, para além das compras. Chama-se Uma. Damos grandes passeatas todos os dias. Uma logo de manhã muito cedo, outra ao final do dia. Nisso, os hábitos não mudaram.

No sítio onde passeio, durante a semana, de manhã, nunca havia muita gente. Hoje há um bocadinho menos. E há os regulares, com quem já estava estabelecida uma ligação. Os 3 corredores que me dizem "olá" quase em uníssono, a miúda que corre com um pedal desgraçado e que mesmo assim arranja energia para me acenar, dizer bom dia e sorrir (é profissional das corridas de certeza absoluta), a senhora de meia-idade que faz sempre uma festa enorme à Uma e que me liga muito pouco (my kind of girl),  a dona da Maré, e os velhotes. Há vários tipos de velhotes, uns sozinhos (elas) outros acompanhados e há um casal.

 

Este post é sobre esse casal. São velhotes. Mais de 75 anos. Andam juntos, mais ou menos, porque ele vai à frente, sempre com um speed do caraças, e ela vai mais calmamente, atrás, de vez em quando ele para e fica à espera que ela percorra os 200 metros que os separam, e quando ela se chega, ele zarpa outra vez. Há uns tempos comentei com ela "o seu marido vai sempre cheio de pressa" e ela riu-se e disse que ele gostava assim, e que era uma companhia, e que sem ele ela não vinha, portanto, estava tudo bem. Ela tem dificuldades a andar. São os dois muito simpáticos.

 

Ontem vi-os ao longe e perguntei-me se teriam algum apoio. Ele aproxima-se e pára ao pé de mim, eu meto conversa, assim como quem não quer a coisa, a tentar perceber se precisam de ajuda ou se têm rede, mas sem perguntar diretamente, para que o senhor não se sentisse ofendido. Eles são mais susceptíveis que elas. A conversa foi hilariante.


Oh menina, isto não é nada. Nós vivemos em Moçambique, quando eles estavam em guerra, e era uma fome terrível, vínhamos a Portugal, nas férias, engordávamos 20kg porque já sabíamos que no regresso, não havia nada e era preciso criar reservas. Não é agora esta bicheza que vai dar cabo de nós. E eu a pensar, oh caraças........ andam a fazer a vidinha de sempre. A senhora vem a meio caminho, ainda há tempo para mais conversa. 

Nós temos uma filha que é médica pediatra e que todos os dias telefone e quer um relatório (ok, fico descansada, têm apoio), e nós mentimos, porque sabemos que ela fica muito aflita. No primeiro dia dissemos que tínhamos vindo para aqui passear, e ela proibiu-nos (e ria-se muito, com a proibição da filha), agora dizemos que não saímos, só para ela ficar descansada. Mas fazemos a nossa vida normal, só com alguns cuidados, que isto é tudo um exagero.

A senhora chegou, parou a uma razoável distância, e ele também está bem longe. Ri-se e diz que exagero por exagero, mais vale prevenir que remediar. 

A Uma está impaciente - lá está esta na conversa - chama-me, os senhores têm apoio e uma filha que se preocupa e é aldrabada à força toda nos relatórios diários, só para ficar mais descansada. Os papéis estão invertidos. Mas eu também fico mais descansada.

Sigo o meu caminho, despeço-me com um aceno, enquanto ele ensaia o início de mais um sprint e ela se ri enquanto quase encolhe os ombros. 

Não sei o que é pior, aldrabarem a filha ou fazerem uma vida normal. Esta malta mais velhota está muito afoita. Amigos e conhecidos, a dizer que a miudagem se porta lindamente, mas que os pais estão a dar problemas.

Vocês querem ver que é por causa da população sénior que vamos levar mesmo com o estado de emergência? (sim, eu sei que há outros mecanismos para obrigar ao confinamento obrigatório, como os que estão a ser adotados em Ovar).

 

Cambada de insubordinados, pá.

 

Se lá chegar, vou ser TÃO assim :)

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