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Jonasnuts

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Estudos americanos, informação, desinformação e emprenhamento auricular

Jonasnuts, 07.12.15

"Há um estudo americano"........ É com frequência que lemos esta frase no início de "notícias" sobre "descobertas" do mundo da "ciência". Tanta aspa não é inocente.

 

Esta dinâmica é verdadeira para muitas questões. Para a ciência sim, mas também para a política, para o terrorismo, para a economia, etc., etc., etc.

 

A falta de qualidade da comunicação social, mais interessada em tiragens, audiências e sobrevivência do que em factos, contribui largamente para a desinformação. A falta de sentido crítico das pessoas, faz outro tanto.

 

Se formos a ver, há "estudos americanos" para todos os gostos. 

 

Ontem, não podíamos comer mais do que um ovo por dia, no máximo. Mas hoje já podemos comer dois ou três, que até faz bem ao colesterol. Ontem o azeite fazia horrores à saúde e a banha é que era boa. Hoje, a banha está banida, e o azeite é que é bom. Estes são apenas dois exemplos que me ocorrem sem pensar muito. 

 

É responsabilidade de cada um saber interpretar, da melhor forma possível, a realidade que nos rodeia, sendo que frequentemente, é uma realidade deturpada. Deturpada por interesses económicos, deturpada por ignorância, às vezes com dolo, às vezes sem dolo, mas deturpada mesmo assim. E como é que um leigo (que é o que eu sou) interpreta essa realidade deturpada?

 

Pela parte que me toca, com dificuldade. Dá trabalho. É preciso ler muito. E às vezes ler coisas que temos de reler, e reler, e reler, com o apoio dum dicionário e duma enciclopédia, para conseguir perceber, ainda que vagamente, o tema de debate e as conclusões.

 

Vem este parlapié todo a propósito da homeopatia, e da vontade do Bloco de Esquerda em "regulamentar e legislar" esta actividade.

 

Eu, por acaso, acho que a única legislação e regulamentação de que a homeopatia necessita é a proibição absoluta de qualquer associação a ciência, a estudos científicos e a saúde. Diz-me quem tem opinião mais moderada que a regulamentação desta actividade é útil e importante, para separar o trigo do joio. Separar os vigaristas e oportunistas de quem está na coisa de boa fé. Eu tenho um problema.

 

Como é que se separa o trigo do joio, quando só há joio?

 

Não me interpretem mal, eu não acho que todas as pessoas que desenvolvem actividades na área da homeopatia são vigaristas e oportunistas. Acredito que haja quem, de facto, acredite piamente na coisa. Acredito até que seja a maioria. 

 

Mas o facto de acreditarem, não valida nem credibiliza a coisa. É uma fé que têm e, como todas as fés, é preciso respeitar. O efeito placebo das fés (de todas as fés, sejam elas "científicas" ou das outras) é poderoso e, esse sim, está estudado e comprovado (embora falte saber ainda muita coisa).

Mas, entre respeitar uma fé e financiá-la, incentivá-la e credibilizá-la vai uma enorme distância. E, que eu saiba, Portugal ainda é um estado laico. 

 

Sou acusada de falar sem saber, e de ter sobre o tema um conhecimento meramente wikipédico. É verdade..... tomei conhecimento sobre os fundamentos da coisa, pareceu-me tão absurda que não aprofundei. Se lhe tivesse encontrado algum mérito, teria ido atrás. Não encontrei qualquer mérito, descartei.

 

É uma escolha. Tendo em conta a profusão de informação, acreditamos naquilo que quisermos. E se queremos acreditar nos efeitos da homeopatia, acreditamos.  Porque temos amigos que só usam isso e se têm dado bem (até ao dia, claro), e porque a indústria farmacêutica é um polvo mafioso que só existe para ganhar dinheiro (e não é mentira), e porque a medicina tradicional está longe de ter respostas para tudo e em muitos casos tem ainda as respostas erradas, e que não nos chegam. 

 

Repito, é uma escolha. 

 

Eu escolho acreditar no método científico que me parece, de todas as metodologias, a mais correcta. Lamento o link wikipédico, mas tem o básico, sobre o método científico. Método a que a homeopatia não conseguiu resistir uma única vez. 

 

Escolhemos de acordo com as nossas convicções, o nosso sentido crítico, a informação de que dispomos, e de que vamos atrás.

 

Eu escolho não acreditar na homeopatia. Sou mulher de uma só fé. O Benfica, evidentemente.