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Jonasnuts

Jonasnuts

Deolinda

Jonasnuts, 09.02.11

É o tema da moda, pois é, e já se sabe, eu sou uma fashion addict.

 

Eu gosto dos Deolinda, e gosto da voz da Ana Bacalhau. E até percebo esta música do Parva que eu sou, e até percebo que haja um regresso melancólico às canções de intervenção, e pronto.

 

O que eu não percebo, e a sério, que não percebo, é porque é que esta é a geração sem remuneração. O meu electricista (que é um bom electricista) só consegue lá ir a casa tratar do quadro daqui a 2 meses, e não, não está à espera de material ou de componentes. Está ocupado com outros clientes, está cheio de trabalho. Quero um bom marceneiro? Espero, que os bons marceneiros têm lista de espera. Um bom ladrilhador, a mesma coisa. Neste tipo de actividade, para os bons profissionais, não há falta de trabalho. E mais, ganham bem. Muito bem. São licenciados? Não sei, nunca perguntei, presumo que não. Não são escravos, a não ser dos seus próprios horários e dos seus clientes, se quiserem.

 

Dirão, não é fashion. Pois, se calhar não é. Os cursos superiores eram, antigamente, só para alguns, e os que não tinham forma de lá chegar, endeusavam os canudos. Acho que é por causa disso que em Portugal há tanta bajulice e deferências idiotas em relação a quem tem uma licenciatura, só por isso, só porque completaram 4 anos numa faculdade. Às vezes chegam-me aqui, para entrevistas, e muitos (muitos, mesmo) nem uma porcaria duma carta de apresentação em português correcto sabem escrever. A sério, são confrangedoras as limitações a esse nível.

 

Emprenham pelos ouvidos dos pais que ter um curso é que é bom, porque é preciso, porque garante um emprego (não garante porra nenhuma), e pronto, lá se metem nos cursos, às vezes sem saberem muito bem o que é que querem fazer, mas têm de ter um curso, seja ele qual for. Depois disso logo se vê.

 

Muitos não serão, mas uns quantos, uns bastantes aliás, que sim, de facto, são parvos.

4 comentários

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    Poortugues 09.02.2011

    "Na terra do meu pai, quase todos os licenciados são professores, porque o que interessava era ter o canudo para não andar a cultivar os campos, que agora cultivam porque não têm colocação."

    Exactamente! Porque é que apesar de nos últimos anos tanto se ouvir falar na difícil colocação dos professores e nos muitos professores desempregados, os cursos continuam cheios?
    Porque é que continua a haver milhares a entrar para esses cursos que sabem à partida não ter futuro?

    Porque, e lá está, o importante é ter um canudo não é ter um futuro.
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    Yana António 10.02.2011

    Estou parva com o que estou a ler, a sério!
    A razão principal porque nos ultimos 15 anos as universidades foram "inundadas" de pessoas é porque, de repente, houve uma geração que teve a oportunidade de procurar um futuro melhor do que o dos pais analfabetos (ou quase)! Porque um canudo não é só sobre um futuro "emprego", é sobre a formação pessoal e intelectual de uma pessoa, e é a única hipótese que uma pessoa que venha de uma família com baixo nível de escolaridade tem de aprender a pensar e a interpretar o mundo em que vive! As pessoas com várias gerações de licenciados na família não podem compreender isso, porque receberam essa formação intelectual directamente dos paizinhos. Experimentem crescer num meio onde as pessoas que lêem livros ou jornais são consideradas "intelectuais arrogantes" e depois talvez compreendam a vantagem que levam só por terem nascido de pais com formação superior.
    A ideia de que um canudo era uma garantia para a vida foi uma ilusão? Foi. Até nisso fomos vítimas, porque quando os nossos pais nos "emprenharam" a ideia de que bastava um canudo para garantir a nossa vidinha, era mesmo isso que parecia à luz da história da vida deles, que tinham passado a vida a "servir" pessoas licenciadas. E ainda bem que o fizeram. Prefiro poder orientar os meus filhos sobre os primeiros livros a ler do que partilhar com eles os malucos do riso à hora de jantar. Prefiro compreender o que leio nos jornais do que ser "canalizadora" e ter um "bom ordenado". Essa historia de que as licenciaturas são só para os filhos dos licenciados mete nojo, e sei que esta ideia não foi exposta nestes termos, só que é invariavelmente nessa sugestão que textos como este vão parar. Já a ouvi milhares de vezes, e foi o que a patroa da minha mãe (empregada doméstica desde os 11 anos de idade) lhe disse quando soube que eu ia estudar para além do secundário: que era um disparate eu continuar a estudar para além do secundário, porque, "vinda da minha classe social, não teria as competências para o desafio, e nem toda a gente podia ser doutora". A minha mãe despediu-se e eu fiquei entre os melhores alunos da história da minha licenciatura, e sou umas das 4 ou 5 pessoas da minha turma que hoje trabalha na àrea para a qual estudou e está num quadro de uma empresa.
    Não se preocupem, acho que para as gerações actuais a ideia de que um canudo não garante nada está mais do que clara, mas para a minha isso não era assim tão claro, muito menos quando, como já disse, os nossos pais sempre tinham "servido" as pessoas licenciadas. E podes crer que vou insistir para que os meus filhos façam, no mínimo, uma licenciatura. Depois podem ser agricultores, mecânicos, o que eles quizerem...
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    Maria Ribeiro 12.02.2011

    Concordo completamente com a Yana.
    A Jonas vai ter a oportunidade de por em prática aquilo que defende, pois também tem um filho, que eventualmente poderá em vez de se licenciar tirar um curso de canalizador ou pedreiro e ser um excelente profissional nessa área.
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